VISAGISMO: arte e técnica a seu favor

Você conhece o Visagismo? Sabe como ele pode ajudá-la ao destacar o que há de autêntico em você? Entende a relação entre sua imagem e estilo de vida?

Se já ouviu falar e tem uma vaga ideia, então assista ao seguinte trecho do filme A Dama de Ferro.

No filme, percebemos o grande trabalho de estilo e imagem sugerido pelos assessores de Margaret Thatcher e adotado com êxito em sua trajetória rumo ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido. Há muitas mudanças na personagem vivida por Meryl Streep, mas também respeito por sua identidade e por seus valores. Como resultado do trabalho de forma geral, a líder conquista o cargo com segurança, determinada a comandar a nação britânica com mãos de ferro.

Para entender o conceito visagista, entrevistamos Philip Hallawell, diretor do Centro de Visagismo Philip Hallawell e conferencista nas áreas de beleza, estética e artes. O trabalho de Philip foi criado a partir da associação que fez dos símbolos arquetípicos (que o criador da psicologia analítica Carl Gustav Jung descreveu como símbolos com significados universais) com a linguagem visual. De acordo com Philip, os símbolos arquetípicos mais simples e os mais poderosos são os formatos geométricos que estruturam todas as imagens. “Isso significa que toda imagem, intencionalmente ou não, contém uma mensagem subliminar que define o que ela expressa. Raciocinei que as linhas que formam os formatos geométricos são também símbolos arquetípicos”, explica.

E você pode estar se perguntando: por que a imagem pessoal tem tanta importância? Simples. Pois reagimos emocionalmente àquilo que vemos. O cérebro registra o conjunto de linhas, formas e cores da imagem e se identifica ou não com as qualidades que cada traço exprime. Philip traduz: “Quando a pessoa se olha no espelho, também reage emocionalmente. Se as emoções geradas não estiverem em sintonia com seu senso de identidade, ela não gosta do que vê. O encontro entre a imagem externa e interna traz bem-estar, autoconfiança e faz com que vivencie o que tem de melhor”.

Confira a entrevista completa e depois comente com a gente!

S/T – Podemos classificar o Visagismo como arte, técnica ou a mistura dos dois elementos?

Philip Hallawell – O Visagismo Philip Hallawell é uma arte. A arte de ajudar o cliente a definir o que deseja expressar por sua imagem, por meio de uma consultoria, e, depois, de transformar essa intenção numa imagem com harmonia e estética. O processo envolve várias técnicas, como a da análise física, análise do temperamento, a indução à reflexão e técnicas de execução.

Consideramos os cabelos como um dos elementos fundamentais para definição da identidade visual. Mas além deles, que outros pontos são avaliados em uma sessão de Visagismo? Explique a função de cada um desses elementos.

Philip Hallawell – Todos os aspectos da imagem são avaliados: cabelo, maquiagem, dentes, assessórios e vestimentas, além das características físicas faciais e corporais. O rosto é considerado a sede da identidade e representa 70% do senso de identidade visual. Os dentes são muito importantes porque a boca é o ponto focal quando se olha para uma pessoa; eles comunicam importantes informações, por meio dos seus formatos, tamanhos, sua arcada e as linhas que a dentição forma. As sobrancelhas são a moldura dos olhos, região associada às emoções e o seu formato, tamanho e grossura vão interferir na maneira em que a pessoa é percebida emocionalmente. Os óculos têm semelhante efeito. A maquiagem pode alterar a percepção do formato do rosto e das feições. As vestimentas afetam as formas do corpo. Mas, de todos os elementos, o cabelo é que tem o maior impacto na imagem pessoal e é o elemento para o qual se olha mais. Toda mudança na imagem pessoal muda o senso de identidade da pessoa.

Quanto tempo dura a primeira consulta com o visagista? Depois dessa primeira consulta há mais encontros? Se sim, com que frequência?

Philip Hallawell – No salão, a consultoria dura aproximadamente de 15 a 30 minutos e sempre é repetida na volta do cliente. As sessões de retorno duram menos tempo. A consultoria de moda dura por volta de 1 hora ou mais. A consultoria de Visagismo é incorporada ao trabalho que o profissional faz, ou seja, não é feita a parte.

A consultoria segue uma sequência lógica (estuda-se primeiro o rosto, depois os ombros, os dedos das mãos, a altura) ou para cada cliente acontece de uma maneira diferente?

Philip Hallawell – Sim. O primeiro passo é a análise física que é feita muito rapidamente depois que se tem prática. Enquanto que o cliente se aproxima do profissional, este está observando o andar, a postura, gestos e a fala. Também já analisou o formato do rosto. Quando a consultoria começa, o profissional já analisou o comportamento e tem uma boa noção do temperamento dominante do cliente. Quando ele começa a conversar, diz o que o formato do rosto indica, depois cada parte do rosto. A testa, que revela como a pessoa é intelectualmente, os olhos que indicam como ele é emocionalmente, o nariz mostra como age na vida, a boca como se expressa e é relacionada à sexualidade e o queixo como lida com suas vontades. Não precisa ser nesta ordem. Finalmente analisa a cor da pele. O importante é fazer o cliente refletir sobre como está utilizando essas características e se deseja acentuá-las ou diminuí-las, ou se deseja adicionar algo. O consultor de moda vai fazer uma análise mais detalhada do corpo e o dentista dos dentes e da boca. Desse modo o cliente é ajudado a definir o que deseja na sua imagem.

Há ferramentas específicas utilizadas na consulta com o visagista? Explique a estrutura de cada ferramenta e a finalidade.

Philip Hallawell – O visagista não deve depender de nenhuma ferramenta para fazer a análise e a consultoria, exceto ao avaliar a cor da pele, quando tecidos de diferentes cores são colocados abaixo do queixo para ver se combinam com o tom da pele. Isso é importante para consultores de moda, mas não chega a ser necessário para outros profissionais que podem descobrir o tom questionando o cliente sobre como o bronzeado se fixa após a exposição ao sol.

As alterações físicas orientadas costumam causar mudanças no comportamento das pessoas avaliadas, ou seja, é comum um cliente conseguir a promoção desejada como resultado da confiança conquistada por meio da nova imagem?

Philip Hallawell – No Visagismo Philip Hallawell, o objetivo é criar um encontro entre a identidade visual exterior e o senso de identidade interior. Quando isso acontece, a pessoa atinge seu mais alto nível de equilíbrio emocional e psicológico. Ela também vê o melhor de si na sua imagem. Evidentemente, tudo isso trará grandes benefícios nos seus relacionamentos e pode resultar em mudanças significativas, como promoções, conquistas e realizações.

Muitas vezes, perguntas como “O que eu quero”, “quem eu sou” e “qual estilo de vida que pretendo ter” podem não estar esclarecidas para o cliente, ou seja, ele sabe que a mudança é necessária, mas não sabe por onde começar. Quais são as técnicas que vocês utilizam para extrair a essência do cliente?

Philip Hallawell – A maioria das pessoas não consegue colocar em palavras respostas para perguntas como essas. A consultoria lhe dá as palavras quando se explica o que o rosto revela do seu temperamento e a análise da imagem o conscientiza sobre o que está expressando para o mundo. Isso facilita muito para definir o que o cliente deseja, como é seu estilo e outras questões.

Dê um exemplo prático desse processo.

Philip Hallawell – Funciona da seguinte maneira: dizemos que o nariz do cliente é pronunciado e é grande. Isso significa que ele provavelmente seja uma pessoa de ação, que não tem medo do risco e que é extrovertido. Mas também pode significar que seja imprudente. O que se faz é estimular a reflexão. Isso é bom? Traz benefícios ou atrapalha? Precisa atenuar isso ou não? O corte de cabelo, a maquiagem e outros elementos podem acentuar ou diminuir o nariz. Além disso, o uso de linhas inclinadas vai aumentar a energia, o dinamismo e a extroversão. Linhas retas vão dar direção à sua energia e linhas curvas vão suavizá-la. O cliente tem de decidir o que deseja.

As mudanças sugeridas são baseadas nas características naturais dos clientes? Em tempos em que as mulheres brasileiras buscam incansavelmente técnicas para alisar os fios, como mostrar a uma cliente que ela também pode ter sua melhor versão de uma forma mais natural, por exemplo, com cabelos encaracolados?

Philip Hallawell – Cabelos muito retos podem estabelecer uma imagem rígida e de controle. Quando o cliente descobre isso, pode perceber que não é isso que deseja expressar. Muitas mulheres rejeitam seus cabelos encaracolados porque se sentem conturbadas ou inconsequentes. Isso acontece porque a linha encaracolada expressa conturbação, especialmente se o cabelo for longo e armado. O cacheado expressa leveza e certa infantilidade – é uma linha lúdica. No entanto, há como usar cabelos desses tipos naturalmente, sem que expressem algo negativo.

Você acha que os cabelos enrolados (considerados modernos ou até mesmo rebeldes) tem espaço na cabeça de executivas?

Philip Hallawell – Sim, desde que não sejam longos e que o formato do corte seja retangular. Senão a imagem será de uma pessoa sem seriedade e compromisso, ou conturbada, inadequada para uma executiva. Quando a executiva não quer perder sua feminilidade, manter os cachos é uma alternativa. Também podem ser usados para expressar criatividade.

Pensando nas executivas que trabalham em grupos mais conservadores, como empresas de advocacia ou instituições financeiras, imagino que seja difícil generalizar, mas há um padrão ou algum tipo de perfil infalível para o sucesso? Cabelos curtos, lisos, fios retos, algo do gênero?

Philip Hallawell – Uma executiva deve pensar em como deseja atrair clientes, colegas e subordinados e que qualidades deseja deixar evidentes. Ela precisa de uma imagem que revele a pessoa de valor que é e que mostre seu comprometimento com o trabalho. Cabelos longos devem ser evitados, porque todo elemento visual abaixo do lóbulo da orelha tem ação visual pra baixo. Esse direcionamento do olhar para baixo indica que a pessoa precisa de sustentação ou apoio, o que sugere que não é independente. A dependência pode ser emocional (do marido ou dos pais), financeiro, espiritual ou numa imagem que lhe trouxe aceitação, especialmente se foi considerada bonita quando adolescente. Além disso, não passa compromisso. O cabelo longo cria a sensação de peso e imobilidade (além de engordar) e penso que a imagem de uma executiva deve transmitir energia, leveza e dinamismo. Cabelos longos e soltos expressam liberdade e que a pessoa está “solta”, sem compromissos. Não se deve confundir liberdade com independência.

Quanto aos formatos de rostos (oval, retangular, redondo), podemos pensar em cortes mais indicados para cada um deles?

Philip Hallawell – No Visagismo Philip Hallawell não se trabalha com esse conceito, porque seria uma padronização da imagem, quando o que se busca é a personalização ou customização.

Mas há uma regra para tons de pele, coloração dos cabelos e até mesmo para o uso de cores de roupas, certo?

Philip Hallawell – Sim. Em relação às cores é essencial obter uma harmonia, então as cores dos cabelos, da maquiagem e das roupas têm de estar em harmonia com o tom de pele. Em princípio, peles de tons quentes combinam com cores quentes ou com cores frias neutralizadas e vice-versa. Por exemplo, uma pele de tom quente combina com verde musgo, enquanto as peles frias combinam com vermelho vinho. Por outro lado, se a pele for quente, nunca se deve usar um vestido azul-marinho, e se for fria, nunca se deve usar um conjunto vermelho alaranjado. Para descobrir se a pele é quente ou fria, a pessoa deve refletir sobre o tom do seu bronzeado quando se fixa. Se o bronzeado for dourado, é uma pele quente de fundo amarelo. Se for acobreado, é uma pele quente avermelhada. Se for do tom de café ou simplesmente escurece e tem tendência de se manchar, é uma pele fria amarelada. E há ainda as peles muito brancas que nunca seguram um bronzeado. Essas são peles frias rosadas.

Philip Hallawell por Virna Santolia

Philip Hallawell teve sua formação na Inglaterra e nos EUA. Artista plástico e arte educador, ele apresentou e criou a série À Mão Livre – A Linguagem do Desenho, na TV Cultura, e é autor dos livros da série À Mão Livre (Ed. Melhoramentos), Visagismo: harmonia e estética (Senac SP, 2003) e Visagismo Integrado: identidade, estilo e beleza (Senac SP, 2009).

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12 comentários sobre “VISAGISMO: arte e técnica a seu favor

  1. Nada como encontrar nossa melhor versão! Adorei a entrevista e acredito no que Philip Hallawell indica, devemos buscar nossa identidade, o que há de único e especial.

  2. Dicas maravilhosas. Tinha muita curiosidade sobre esse tipo de trabalho, vou complementar a leitura com os livros de Philip Hallawell. Obrigada pela ótima pauta, Executiva sem Terninho!

  3. Muito bom ver uma matéria tão detalhada sobre Visagismo.
    Antes eu imaginava apenas como técnica, agora entendo a arte e cuidado ao preservar a identidade dos clientes. Os trechos do filme “A Dama de Ferro” foram muito bem escolhidos.

    • Com certeza, Paula! Vivendo e aprendendo, sempre!!! 🙂 A matéria ficou realmente bacana! A Fer mandou super bem! Super obrigada pelo carinho! Bjo grande e ótima semana!!!! Fabri Gragnani

  4. Acabei de fazer o curso do Phillip e minha concepção de beleza mudou completamente. O que é importante no visagismo, é a pessoa, a pessoa é o foco. Se conhecer e saber o que existe de real em vc. E com essas informações saber que deseja expressar ou ocultar. O que se faz nos salões é transformação. No Visagismo é Adequação.

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